Aleister Crowley e a Magia

 


Meu trabalho anterior foi mal compreendido e, seu esboço, limitado pelo uso de termos técnicos. Ele tem atraído muitos diletantes e excêntricos, buscando superficialmente na 'magia' uma fuga da realidade. Eu mesmo fui o primeiro a ser atraído conscientemente desta forma. E ela tem repelido apenas mentes científicas e práticas, justamente as que eu mais pretendia influenciar.” ('Magick – Theory and Practice', Aleister Crowley).

O salto quântico desta personalidade controversa poderia ser simplificado demonstrando apenas a superação de dois aspectos extremamente desafiadores com seu Mercúrio natal em Escorpião:

a) Saturno em Aquário em quadratura (90º) : possibilidade de bloqueio intelectual e dificuldades no aprendizado e na autoexpressão;

b) Urano em Leão em quadratura (90º): tendência a problemas no sistema nervosos, descontinuidade cognitiva e dificuldade na memorização.

Considerando-se que a quadratura é o aspecto astrológico mais desafiador, o fato de Aleister Crowley ter se tornado um 'escritor prolífico e habilidoso' representa um salto quântico sem precedentes.

“Em 2002, a BBC realizou uma votação da qual participaram 30 mil ingleses, sendo-lhes perguntado sobre o nome do “Maior dos Ingleses”. Na 73ª posição mais votada dos cem maiores ingleses de todos os tempos, entre o rei Henrique V e Robert Bruce, estava o 'famoso poeta, autor e filósofo Aleister Crowley'” (DUQUETTE, 2007).

E seu trabalho na área do conhecimento esotérico e da filosofia hermética se estende desde a criação de um dos tarots mais utilizados e comercializados no mundo até a sistematização da filosofia da Era de Aquário chamada Thelema.

Mas, por que sua fama é tão polarizada ao estilo “amor x ódio”? Por que, por um lado, ele é considerado o profeta do novo Aeon, o mestre do esoterismo e, por outro, um lascivo satanista? Por causa do seu comportamento sempre permeado de atitudes e rompantes temperados por sarcasmos venenosos que punham a perder a sociabilidade afável e diplomática de um Sol em conjunção com Vênus em Libra! Este potencial libriano, Crowley não foi capaz de desenvolver em sua plenitude pois, ao mesmo tempo que em atraía as pessoas com seu charme sedutor, sua objetividade franca e, por vezes cruel, as repelia na mesma proporção. Por isto que sua conduta causou dissabores e revolta por parte de seus parceiros e seguidores ao longo de sua vida, principalmente nas irmandades e escolas iniciáticas que ele frequentou e revolucionou.

“Mas há quem adore Crowley por falsos motivos. São aqueles que, também sem nunca ter lido as suas obras, tentam imitar e seguir os supostos passos de Crowley. Estes 'pseudo-ocultistas' consideram muito 'esperto' ser um satanista, um mago negro, e elegeram a Besta 666, ou Mestre Therion, como seu ídolo – o que só revela total incompreensão e desconhecimento do que é Thelema e de qual foi o trabalho de Aleister Crowley.” (HEYSS, 2010).

Uma das muitas e mais severas críticas que fazem a Crowley é o uso e abuso das drogas psicoativas. No entanto, devemos lembrar que seu uso era comum na época, em especial o uso do ópio e da cocaína para fins terapêuticos, como por exemplo, o uso e a recomendação da cocaína por Freud. O colega de Crowley, Allan Bennet, costumava usá-las por causa da asma e percebeu seu efeito místico no acesso às 'portas da percepção'. A partir daí, Crowley resolveu fazer a mesma experiência.

Em um determinado momento em sua vida, por ocasião de sua primeira viagem aos EUA e ao México, percebeu que a sobrecarga mental causada pelo excesso de estudos e práticas ritualísticas fizeram com que perdesse o controle de sua mente. No México, dedicou-se a práticas de controle mental, visualização e memorização de cores, aromas, objetos etc. Desde então, possibilitou a transformação dos potenciais negativos dos aspectos a seu Mercúrio citados anteriormente. Considerou a prática da ioga, que considerou um método científico para se chegar a determinados estados de consciência para 'parar de pensar', pois os pensamentos seriam falsas projeções que afastam a mente da verdadeira percepção da realidade. Desta forma, ele conseguiu alimentar sua lua em Peixes, que apreciava as drogas, sem escapar dos aspectos desafiadores a seu Mercúrio. As drogas implicariam em alívio imediato dos aspectos a seu Mercúrio natal, principalmente, a quadratura de Saturno, cujo sintoma em desequilíbrio é a depressão e a melancolia. Sua lua em Peixes sucumbia à necessidade de fuga deste estado mental apegando-se às drogas como opção mais imediatista no alívio e solução da depressão e dos pensamentos repetitivos e destrutivos. Finalmente, as práticas de visualização, meditação e ioga se tornariam alternativas não imediatistas, mas promotoras de um bem-estar e de um equilíbrio entre a mente irrequieta e a compulsão lunar. Fernando Pessoa, um de seus amigos de boemia, percebendo sua inquietação e voracidade aventureira de ultrapassar limites e fronteiras do mundo mundano, chamou sua busca de “febre do além”.

Crowley pertenceu a uma geração que rompeu com estruturas enrijecidas e estereotipadas do racionalismo iluminista. Entre os anos de 1873 e 1876, a quadratura entre Urano em Leão e Saturno em Aquário ofereceu ao mundo o nascimento de três personalidades que não tiveram medo de revolucionar o conhecimento nas áreas filosófica, esotérica e psicológica : Aleister Crowley, Carl Gustav Jung e Richard Wilhelm.

Jung foi objeto de análise no capítulo anterior. Richard Wilhelm ajudou a popularizar a cultura chinesa antiga, especialmente com sua tradução do I Ching, além de auxiliar o próprio Jung na propagação e entendimento da cultura e filosofia oriental no livro “O Segredo da Flor de Ouro”.

A tríade Crowley-Jung-Wilhelm rompeu barreiras do pensamento filosófico na época trazendo elementos mitológicos, orientais e herméticos que serviram de plataforma para a teoria quântica do século XX e XXI e para a filosofia thelemica que preconiza os ensinamentos da espiritualidade pelo método científico. Em outras palavras, os pensamentos e teorias de Fritjof Capra, Rupert Sheldrake e Amit Goswami foram influenciados pela tríade acima.

Crowley foi o criador da religião ou do pensamento filosófico monista da Era de Aquário: Thelema, que significa “vontade” em grego, ou seja, o autoconhecimento profundo que renuncia dogmas e doutrinas separatistas entre divindade e criação. Thelema lhe chegou de uma forma intuitiva, em uma viagem de lua-de-mel em março de 1904, no Cairo, através de uma canalização. Uma entidade auto-intitulada “Aiwass” ditou ao profeta (Crowley) o que hoje é conhecido como o Livro da Lei, ou seja, a Lei de Thelema. Sua frase mais conhecida, e mais mal interpretada, “Faz o que tu queres, há de ser o Todo da Lei”, popularizou-se no Brasil através da música de Raul Seixas e seu parceiro Paulo Coelho – Sociedade Alternativa -, com a variação “Faça o que tu queres pois é tudo da lei “. A tradução livre dos compositores da frase mais famosa do Livro da Lei dá margens a uma má interpretação. O todo da lei (the whole of the law, no original em inglês) é a integridade da filosofia monista thelemica que reduz as dualidades da Era Cristã no casamento alquímico entre os opostos: o fim do certo em contraposição ao errado; a igualdade entre o feminino e o masculino; a conexão entre a ciência e a espiritualidade. A base de seu trabalho também é a base de seu maior desafio: o excesso de racionalismo exigido pela quadratura entre Saturno em Aquário e Mercúrio em Escorpião contrapondo-se com o poder intuitivo e imaginativo da Lua em Peixes e a conjunção de Júpiter, também em Escorpião com seu Mercúrio. O embate entre as forças destes aspectos resolveu-se na criação de uma filosofia monista e revolucionária em todos os sentidos. O Livro da Lei de Crowley não é compreendido apenas pela sua leitura, simplesmente. Ele deve ser 'absorvido' semioticamente pelos sentidos e sentido tal qual uma poesia. Ler sob o ponto de vista intelectual exclusivo é perda de tempo.

No entanto, seu derradeiro trabalho que pode ser considerado sua obra-prima, é o sistema de Tarot conhecido como Tarot de Crowley ou Tarot de Thoth ilustrado pela egiptóloga e artista plástica Frida Harris. Ele é hoje um dos sistemas mais utilizados pela sua riqueza simbólica, mágica e de significados ocultistas, além de ser também, a exemplo da totalidade do trabalho do seu idealizador, revolucionário frente aos outros sistemas de Tarot mais tradicionais como o de Rider-Waite e Marselha. Com este trabalho, Crowley encerra uma rica produção de ensinamentos filosóficos, herméticos e mágicos revelando uma das maiores superações de aspectos críticos sobre o mecanismo intelectivo de Mercúrio e um dos melhores aproveitamentos da expansão jupiteriana.

(extraído de O Salto Quântico Astrológico: A Teoria Quântica Aplicada aos Arquétipos Astrológicos)

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