O Caminho da Fortuna

 Arcano Maior X do Tarot de Crowley
O Livre-Arbítrio Consciente

Júpiter é o maior planeta do sistema solar. Na Astrologia, ele também está associado à grandeza, pois seus ciclos nos mapas natais provocam a expansão das ondas de possibilidades em um determinado assunto. Este astro também revela o oculto, expõe verdades durante seus ciclos, dinamiza aspectos e vitaliza outros planetas. Assim, o indivíduo tem a oportunidade de colapsar o potencial que um determinado astro representa em seu mapa de nascimento em realidade.
Por sua correlação com o arquétipo da grandeza, abundância e expansão, Júpiter consegue desenvolver a auto-confiança e a fé em algo maior do que nós que pode ser Deus ou outra referência protetora da Espiritualidade. Regente de dois signos, Sagitário e Peixes, ele estabelece a relação entre a fé, a religião e a espiritualidade compondo nossas regras morais, leis e dogmas que formam a noção de Verdade de cada um de nós.
Júpiter ou Zeus na mitologia greco-romana sabia muito bem o que queria e não perdia tempo para conseguir. Nenhum limite o bloqueava ou restringia. Escondido pela mãe Réia do pai Saturno que queria devorá-lo, Júpiter destronou o pai, quando cresceu e tinha condições de enfrentá-lo. Fez ele vomitar todos os filhos que havia devorado (Ver Caminho do Universo), dentre eles Netuno e Plutão. A partir daí, Júpiter tornou-se o novo e supremo governante do Olimpo e dividiu a Terra com seus irmãos, Netuno, que cuidaria dos mares e oceanos e Plutão, cuja responsabilidade seria controlar o mundo subterrâneo dos mortos. Suas paixões também não conheciam limites: mesmo casado com Juno (Hera), Júpiter teve várias amantes entre deusas e mortais, além de vários e famosos filhos com elas como, por exemplo, Hércules. Este descontrole e falta total de limites é um lado jupiteriano que muitas vezes torna danoso em alguns de seus ciclos planetários que envolvem aspectos tensos causando exageros, compulsões e todos os tipos de excessos.
Como deus dos raios e dos trovões, o todo-poderoso Zeus nos remete ao deus despótico e vingativo do Velho Testamento. No Novo Testamento cristão a mudança é nítida: este deus torna-se mais amoroso e protetor de acordo com os ensinamento de seu filho Jesus. Amor e proteção, além da vinda de um filho para expor sua nova abordagem são características de um deus solar. Nesta mudança percebemos a evolução da fé, ou como deveria ser nossa evolução religiosa e espiritual: antes da Era Cristã estávamos subjugados a forças implacáveis do destino. A partir do “herói” e filho de Deus Jesus Cristo nos foi revelado que o Amor,o auto-conhecimento e a similaridade entre o macrocosmo e o microcosmo pode nos aproximar de Deus até nos tornarmos um ou reconhecermos esta divindade em nós mesmos.
Júpiter no nosso mapa natal revela uma grande potencialidade de crescimento e abundância quanto ao signo e à casa onde estiver presente. Claro que, toda a potencialidade necessita da dinâmica do observador para se tornar real. Entretanto, não podemos confiar cegamente na abundância e sorte vitalícias pois sabemos que o universo está em constante ciclo de expansão e contração. Agora estamos entrando em contato com o significado de Júpiter, aquele que expande, a diástole cósmica que reflete em nossa vida tanto quanto Saturno, aquele que contrai, a sístole cósmica que já conhecemos desde o primeiro caminho da Árvore da Vida. Esta é a lei da Natureza que nos ensina a ter equilíbrio para sempre continuarmos a ser observadores atentos e conscientes dos ciclos planetários que simbolizam mais adequadamente o arcano e o Caminho da Fortuna ou Roda da Fortuna.
Este caminho talvez seja, aparentemente, o mais confortável. Ele conecta as esferas do Sentimento com a Realização regidas, respectivamente por Vênus e Júpiter considerados astros cujos trânsitos geralmente propiciam boas novas, sucesso, realização, expansão e sociabilização. No entanto, a Roda da Fortuna ou a R.O.T.A. (T.A.R.O.) da Vida sempre tem seus altos e baixos, alegrias e infortúnios. Mas este conceito de Roda da Fortuna é muito ligada à ideia de destino implacável, tal qual o Velho Testamento onde Júpiter mandava e desmandava nos homens que apenas obedeciam. No tarot de Crowley, cujos arquétipos estão mais adaptados ao Novo Aeon ou Era de Aquário, o arcano da Fortuna remete novamente às três formas energéticas que predominam na Terra e que já vimos no Caminho do Sol: tamas, rajas e sattva.
Para mantermos nossas mentes organizadas a fim de entender melhor o significado deste arcano, vamos fazer algumas correlações. Comecemos com a figura na parte inferior da carta, um crocodilo com a cruz Ankh em uma mão e um cajado na outra. Trata-se de Tiphon, monstro mitológico que corresponde à destruição. Sua qualidade energética é tamas e corresponde ao sal alquímico: energia densa, pesada, resistente que condiciona a mente à negação da criatividade e à inércia aniquladora. O macaco é Hermanúbis e simboliza a dualidade entre a destruição e a criação, representa a energia rajas. É o mercúrio alquímico que tem sua dinâmica no contexto dual e determinista humanos. Mas a esfinge com a espada em riste é o resultado evolutivo do reconhecimento e a síntese dos quatro corpos de manifestação e dos quatro elementos: terra (corpo físico), ar (corpo mental), água (corpo emocional) e fogo (corpo espiritual ou energético). Este último estágio da Roda ou Rota é sattva, o enxofre ou a criatividade supramental que nos extrai do determinismo e da inércia do “destino”. Por isto está no topo da Roda: demonstra o salto quântico ou o máximo degrau criativo e evolutivo da Humanidade conectada com seu self quântico no domínio de sua agenda dharmica. Quando deixamos de ser observadores, voltamos para o tamas ou rajas pois, se paramos de evoluir, estamos na verdade involuindo, nos entregando ao condicionamento alienante. Por isto que a palavra mais utilizada no Ativismo Quântico e de difícil tradução exata para o Português é 'awareness', cujo significado se aproxima de alerta ou atento. Significa não cair no embotamento materialista e determinista.
A mudança da consciência para um entendimento holístico e quântico, é fundamental para nos dirigirmos a uma nova visão de mundo a fim de romper definitivamente com o padrão de destino e fatalidade que este arcano representou durante muito tempo. Sabemos que as ciências esotéricas sofreram massiva influência da igreja na Idade Média e a Roda da Fortuna se tornou tão ameaçadora quanto Zeus ou o deus do Velho Testamento. Claro que é mais fácil pensarmos que existe um poder maior que manipula tudo e está no comando, mas somos responsáveis pelo ritmo desta roda a partir da conexão interna com o arquétipo do Deus Todo Poderoso do Eu Sou.
Temos que respeitar o caminho aparentemente fácil entre duas esferas criativas e entender que não basta “deixar rolar”, deixar nas mãos de deus ou deixar fluir durante todo o tempo. Isto é inércia e, a fluência evolutiva da Roda nos impele para a dinâmica e depende do nosso comprometimento com nossa própria vida. Paralelo ao Caminho do Pendurado, cuja introspecção e recolhimento são bem vistos perante a esfera da Ação, o movimento criativo e expansivo de Júpiter ou do Caminho da Fortuna é necessário para concretizarmos qualquer meta na esfera da Realização.
As cartas do Tarot, o I Ching e a Astrologia não têm, é claro, poderes mágicos para assegurar a predição de eventos futuros específicos; mas estes e outros artifícios semelhantes podem ajudar-nos a centralizar nossa percepção de maneira tão profunda no presente que nos movemos mais facilmente com a Roda da Fortuna. É certo que não nos é dado livrar-nos dela, mas com essa espécie de introvisão podemos, porventura, evitar as ciladas mais óbvias causadas pela nossa própria cegueira. E aprendendo a antecipar o ritmo da Roda, poderemos deixar de ser repetidamente sacudidos por solvancos inesperados.” Jung e o Tarot – Uma jornada arquetípica de Sallie Nichols.

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