O Caminho da Morte : Arcano Maior XIII do Tarot de Crowley

 As Máscaras se dissolvem e o Ego dá lugar ao Self Quântico


Nada morre, tudo se transforma. O espírito vaga, vindo ora cá, ora acolá, e ocupa qualquer forma que deseje. De animais, passa a corpos humanos, e de nossos corpos para animais, mas jamais perece.” Pitágoras, 'Metamorfose XV'
Ao penetrar no inconsciente, a mente consciente se coloca numa situação perigosa, pois está aparentemente extinguindo a si mesma”. Carl Gustav Jung, 'Psicologia e Alquimia'
O signo de Escorpião reúne em seu arquétipo “tabus” como a morte, o sexo, nossos demônios escondidos na sombra do inconsciente, traumas e perdas. Assim como Píton escondia-se nas profundezas da ilha de Delfos para, após Apolo trazê-la à luz do Sol (consciente) e a aniquilar, inspirar as pitonisas a profetizar orientando aqueles que ansiavam por razão e significado em suas vidas. É tão difícil encarar certos assuntos enraizados na nossa psique e muitas vezes nos refugiamos como o escorpião que, quando se sente encurralado, injeta seu veneno em si mesmo cometendo suicídio. Não é necessário dizer que estes assuntos “tabu” são também considerados “densos e tensos” em uma conversa ou discussão. Mas eles existem! E são fundamentais para nosso auto-conhecimento profundo, senão seríamos virginais e inocentes como Perséfone vivendo tranquilamente na superfície da sua existência na Terra sob a proteção de sua mãe Ceres, antes do seu rapto por Plutão ou Hades (Caminho do Aeon), senhor dos infernos e regente do signo de Escorpião. Este rapto mitológico simboliza nossa “descida aos infernos pessoais” quando nos relacionamos e nos tornamos íntimos e unidos ao outro através do sexo e a partir daí nos confrontamos com a nossa “sombra” refletida pelo outro, demônios nascidos do ego a que nos apegamos, mas não somos capazes de reconhecer e identificar em situações superficiais onde operamos com nosso controle.
Por isto que Escorpião é um signo do elemento Água, energeticamente correlacionado às nossas emoções mais profundas. Costumo brincar com as pessoas que duvidam desta atribuição elementar de Escorpião dizendo tratar-se da “água” do Loch Ness, na Escócia: muito tranquilo nas suas águas paradas e espelhadas, porém com uma profundidade de 300 metros onde, supostamente, reside um monstro pré-histórico! Esta analogia é muito conveniente, inclusive para explicar a modalidade Fixo de Escorpião que é a necessidade inconsciente de manter as próprias emoções sob controle e se sentir poderoso e invulnerável diante de qualquer mudança.
Quando Perséfone casou-se involuntariamente com Plutão, não só conheceu o sexo, mas também reconheceu seus demônios pessoais criados a partir de condicionamentos e comportamentos impostos por sua mãe, Ceres. Por isto que a morte e a transformação são vistas muitas vezes como dolorosas e traumáticas, pois o contato mais profundo com suas emoções, desejos e instintos desdobra-se em mudanças e perdas decorrentes. Deixar o conforto e a segurança para trás e renascer para uma realidade mais complexa e sensível pode provocar medo e resistência. Somos raptados pelos ciclos plutonianos, temos que enfrentar medos e pânicos representados por Cérbero, o guardião do reino de Hades, quando resistimos às mudanças e perdas inevitáveis e tentamos assumir um controle indisponível. Não fomos educados para perdas, mas condicionados para ganhos ininterruptos, obrigados a conquistar êxitos absolutos e estáveis. Queremos aparentar sucesso e domínio da situação, mas não aceitamos o que está por trás da aparência, das máscaras que usamos para sustentar amenidades. Por isto, a Astrologia é a ferramenta mais consistente e detalhada para o auto-conhecimento profundo pois é a ciência esotérica com raízes herméticas e procedimentos quânticos que resgata Píton das profundezas viscerais a fim de tornar claras as nossas resistências, o porquê do sofrimento diante das mudanças, além de orientar e prevenir sobre os ciclos evolutivos planetários que exigem nosso mergulho em direção ao “inferno” pessoal em busca dos nossos talentos em potencial que escondem-se atrás de máscaras adaptadas à normose conceitual dos padrões vigentes.
Crowley nos lembra em seu “Livro de Thoth” que o signo de Escorpião possui 3 níveis de evolução representados por três animais: o escorpião, a serpente e a águia ou fênix.
O escorpião: é aquele que, mediante qualquer ameaça da perda de sua estabilidade e conexão terrena, se auto-destrói tal qual o animal encurralado por um círculo de fogo, por exemplo.
A serpente: adapta-se melhor às mudanças, seu movimento sinuoso demonstra a flexibilidade na condução dos ciclos naturais de perdas e de transformação. Também representa a ascensão da energia kundalínica a partir do chakra raiz, onde é representada envolvendo o ovo órfico subindo em direção ao chakra frontal colapsando todas as ondas de possibilidade para dar início ao salto quântico evolutivo.
A águia ou a fênix: é o resultado da elevação da serpente e da transformação. O salto quântico permite a liberdade, a aceitação de novos paradigmas e a total desconexão com medos, resistências e outras amarras terrenas. É a sublimação das máscaras e a perfeita manifestação da nossa alma ou Self.
O Caminho da Morte conduz e estabelece a comunicação entre a esfera do Sentimento (Vênus) e o Self (Sol). A esfera regida por Vênus encontra-se no triângulo inferior da Árvore da Vida, e refere-se à tendência ao apego ao prazer e às estruturas formativas da Terra. Sair desta esfera rumo à essência sublime de pura Luz do Self requer a força magnética de transformação e reciclagem escorpiônica que revela o quanto somos dependentes da posse, seja num nível material ou nos relacionamentos interpessoais alimentando sentimentos como a raiva, o ciúme, as obsessões, pouco reconhecidos conscientemente quando ativos. É o nosso veneno que se projeta criando armadilhas para não atravessar o portal do submundo e não reconhecer que tanto as mudanças como as curas devem ser feitas de dentro (alma) para fora (corpo). Não basta a mudança de emprego, residência, país, cirurgias plásticas ou constantes separações e términos nos relacionamentos. Estas deveriam ser apenas consequências situacionais que podem se manifestar – ou não – a partir da adaptação e salto quântico da energia vital.
Por isto que no arquétipo de Escorpião está o atributo da cura. Além dos xamãs utilizarem venenos em seus rituais e estados alterados da consciência a fim de orientarem os enfermos para a cura holística, a medicina preventiva e curativa também opera transformando e reciclando a energia vital enfraquecida e desequilibrada utilizando a dosagem adequada de cada "veneno", como no caso da Homeopatia.
Constantino Hering, discípulo de Hahnemann, constatou o processo centrífugo da cura homeopática, alertando para os malefícios do uso de medicamentos tópicos como pomadas para “cura” da sarna, por exemplo, que apenas reprimem a moléstia, internalizando-a. É interessante perceber que as Leis de Hering, como foram conhecidas suas constatações na prática homeopática, comprovam a necessidade de renunciar à forma física e material, à máscara atenuante e conduzir a cura para a origem do que deve ser transformado, ou seja, a essência ou a energia vital na profundeza dos nossos corpos psíquicos e emocional. A aparência desagradável da sarna na pele nada mais é do que um sintoma de uma doença muito mais profunda e, sua manifestação muitas vezes indica a cura de um processo interno.
No arcano 13 do Tarot de Crowley vemos um esqueleto com a foice como a figura principal e símbolo da Morte. Ele usa a coroa de Osíris, aquele que governa o alto e o baixo Egito, significando que o ciclo da morte e do renascimento vem para todos, desde o mais humilde lavrador das savanas africanas, até o presidente de corporações multinacionais. Suas pernas em forma de arco realizam um movimento espiralado conduzindo almas para o ciclo de morte e renascimento que podemos perceber como análogos às diversas espirais do Universo: nossa galáxia, o movimento do sistema solar, a espiral de DNA e até a Árvore da Vida quadridimensional. Tudo isto demonstrando o movimento da Vida, onde a Morte é apenas um estágio intrínseco.
Os animais que representam as etapas distintas dos estágios evolutivos de Escorpião também estão aí representados. O escorpião na base junto a flores em estágio de putrefação, demonstrando que a beleza (Vênus), objeto de desejo na esfera do Sentimento, é fugaz. Note que um peixe está mordendo a cauda da serpente, cujo propósito é ascender até a iluminação, suspendendo-a do chão em direção ao alto. O peixe representa a abnegação e a transcendência após o enfrentamento de medos (Caminho da Lua) que precisamos para o desapego. A fênix está no canto superior esquerdo, sobre a coroa da personagem principal indicando a conquista e o triunfo da iluminação criativa, o salto quântico em direção ao aspecto mais elevado da personalidade. 

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