O Caminho do Ajustamento

 Arcano Maior VIII do Tarot de Crowley
Regência : Libra

Equilíbrio e Harmonia no Colapso da Realidade

Este caminho consiste na primazia do arquétipo representado por Libra: as interconexões humanas. O Eremita (arcano maior IX) tornou-se um experiente observador quântico, preparado para um dos maiores e inevitáveis desafios da vida em sociedade. Para promover-se um relacionamento saudável e duradouro, necessita-se de equilíbrio e igualdade. O signo do elemento Ar e de modalidade Cardinal marca um equinócio, quando o Sol atravessa a linha do Equador dividindo dia e noite de maneira equivalente. Este é o principal significado arquetípico de Libra: o equilíbrio realizado pela mente, já que se trata de um signo de Ar. Os relacionamentos, parcerias e acordos precisam de equilíbrio e equivalência para serem duradouros. Quando existe desvantagem em um dos lados, rompe-se o acordo e inicia-se o conflito. Libra não se adapta a conflitos, pois quer que a paz predomine. Prefere usar seu potencial ardiloso de satisfazer ambas as partes em uma união.
Páris, príncipe de Tróia, foi obrigado a desfazer a harmonia estabelecida por causa de uma escolha. Três poderosas deusas olímpicas o visitaram – Minerva, Juno e Afrodite – e pediram-lhe que elegesse a mais bela dentre elas. Páris sabia que, ao fazer a escolha iria causar um conflito e, provavelmente, uma vingança. A escolha ou a decisão para Libra significa desequilibrar, não conseguir contentar “gregos e troianos” e romper com a paz, mesmo que aparente. Mas elas eram deusas e Páris sabia que teria que obedecê-las incondicionalmente. Cada uma lhe confidenciou que concederia um “prêmio”, caso fosse escolhida. Minerva prometeu sabedoria e estratégia para vencer batalhas e guerras; Juno lhe daria poder num grandioso reinado em Tróia; por fim, Afrodite escolheria a mulher mais bela da face da Terra para sua esposa. Talvez por seu entusiasmo juvenil, Páris elegeu Afrodite como a mais bela. De fato, Afrodite entregou-lhe em matrimônio Helena, a mais bela semideusa. Entretanto, esta escolha custou a Páris o reinado, pois Tróia foi derrotada na guerra contra a Grécia. Eis o resultado da ira das deusas que não foram agraciadas pela escolha de Páris.
Este mito demonstra a iminente destruição de possibilidades ao se fazer uma escolha, ou seja, ao colapsar uma realidade tomando uma atitude, rejeitamos outras inúmeras possibilidades. Ele mostra que todas as nossas ações desencadeiam consequências que modelam nosso karma. O que somos hoje, o que fazemos, sofremos, realizamos nada mais é do que a soma de todas as nossas escolhas e ações.
Na história babilônica sobre a águia e a serpente, começamos a compreender a noção de karma sob a justiça natural que sempre colabora com o equilíbrio e harmonia universal. A águia e a serpente sempre foram parceiras e amigas até que um dia a águia acordou com um apetite voraz que só seria saciado ao devorar os filhotes de sua amiga. Note que a águia agiu conforme seus instintos mais primitivos, sem medir consequências. A serpente, devastada com a perda da sua prole e pela traição de quem ela confiava plenamente, pediu ajuda a Shamash – o deus Sol babilônico. Considerado deus da justiça, Shamash aconselhou à serpente que ficasse escondida dentro de uma carcaça de um animal morto até que a águia se aproximasse. Então ela daria o bote e se vingaria, matando a águia. Observe que os dois animais ilustrados nesta história representam os dois estágios evolutivos do signo de Escorpião (Caminho da Morte), signo que sucede Libra na eclíptica zodiacal. As decisões e atitudes acontecem naturalmente e incidem numa transformação. Se estas ações são de origem puramente instintiva e egoística, as consequências são autodestrutivas, ou seja, rompemos com a harmonia natural para dar ensejo à “sombra” de Escorpião. Ao realizarmos uma ação de acordo com nosso Self (Shamash, o Sol), somos justos para com os outros, para conosco e mantemos a harmonia estabelecida.
A deusa Maat, filha de Rá – deus solar egípcio – é a deusa da justiça, da verdade e da moralidade. É ela que está representada no arcano do Tarot de Crowley camado de “Ajustamento”. Dar o nome de “Justiça” a este arcano é tão relativo quanto a própria noção de justiça que muda ao longo do tempo e conforme as culturas ou crenças humanas. O ajustamento já é algo natural e estabelecido pelas leis universais. Segundo a mitologia, Maat colocava o coração do falecido e uma pena de avestruz em cada um dos pratos de uma balança diante do julgamento de Osíris. Caso a balança não se movesse, a alma do falecido estaria livre do ciclo de nascimento e morte e iria ao encontro da Substância Primordial. O coração pesado e desfazendo o equilíbrio compensatório da balança significa nossas escolhas instintivas e destrutivas que atuaram contra nosso caminho evolutivo.
A verdade de Maat e o Sol de Shamash nos indica o caminho evolutivo que não pode ser escamoteado. Somos responsáveis não só pelo nosso caminho mas por nossas influências diante da sociedade interagindo com os outros em qualquer nível.
A partir do horário de nosso nascimento, conseguimos determinar o Ascendente, ou seja, o signo que estava ascendendo no horizonte a leste no exato momento do nosso nascimento. O ascendente também é a cúspide da primeira das doze casas astrológicas. O ascendente e a primeira casa definem nossa “persona”,como interagimos no ambiente que nos cerca. Ambos demonstram as possibilidades e facetas do “Eu” e de suas máscaras.
A casa oposta e complementar é a sétima. No momento do nascimento, se algum signo estava ascendendo a leste, o signo oposto complementar estava descendo do lado oposto, a oeste . Esta linha do ascendente projetada de leste a oeste também define a cúspide da sétima casa, onde encontramos o potencial para nossos relacionamentos, parcerias, ou seja, que tipo de interação com o “outro” que atraímos com nossas ações e escolhas feitas pelo ascendente e a primeira casa.
O self (o “Eu”) não é uma coisa, mas uma relação entre experiência consciente e ambiente físico imediato. Na experiência consciente, o mundo parece dividir-se entre sujeito e objeto(s). Ao ser refletida no espelho da memória, essa divisão produz a experiência dominante do ego.” O Universo Autoconsciente, Amit Goswami.
Esta oposição entre as primeira (Eu) e sétima (Outro) casas catalisa os reflexos e o sistema de culpa nas nossas relações sejam elas familiares, íntimas ou profissionais. A falsa dualidade é o resultado da divisão quando olhamos para o outro excluído do nosso sistema. Não existe divisão, assim como atribuir ao outro culpa ou fracasso numa relação também é falso. Se o sistema acontece na base de complementaridade ou correspondência, isto significa que o Eu e o Outro são, na verdade, apenas um. Ajustar esta complementariedade é uma tarefa tão sensível e refinada que Maat, no arcano do Ajustamento, está na ponta dos pés demonstrando o equilíbrio perfeito de uma bailarina. As pontas de seus pés confundem-se com a ponta da espada virada para baixo. Eis uma diferença com os outros tarots que salta aos olhos. Os arcanos de tarots mais tradicionais como o Rider-Waite, por exemplo, mostram a personagem com a espada em riste, pronta para fazer justiça. Já Maat não se preocupa em inserir alguma decisão ou ação em meio à simetria e equilíbrio, pois a própria lei do karma se encarrega em exercer sua ação que encaminha-nos naturalmente a um estado compensatório.
Em sua balança podemos perceber as letras gregas alfa e ômega que indicam a finalidade de cada ação ou decisão. Nada é aleatório, todas as ações conduzem a um fim ou consequência.
O Caminho do Ajustamento percorre o caminho entre as esferas do Self (Sol) e da Ação (Marte) relevando a importância das nossas escolhas resultarem em autoconhecimento ou realização da nossa essência profunda. A serenidade e o equilíbrio nos conduzem a colapsos afins com nosso propósito de vida e esta realidade formada é evoluída, nos aproximando da formação arquetípica, do entendimento e verdade sobre o funcionamento do Universo. Agindo contra nossas verdades pessoais, não refletimos mais a luz da unicidade e recairemos no processo autodestrutivo e nas malhas repetitivas do Samsara.

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