O Caminho do Eremita

 Arcano Maior IX do Tarot de Crowley

Regência: Virgem
O Observador Quântico

Após o salto quântico criativo que proporciona ao Self o entendimento consciente e a observação de sua R.O.T.A. de Vida ou Fortuna, agora é a vez de praticar sua função construtiva e realizadora.
O signo de Virgem representa o arquétipo da racionalidade, da visão prática, organizacional e metodológica. Regido por Mercúrio, trata-se de um signo que une a razão lógica à cadência da própria Natureza na sua divisão sazonal mediante suas qualidades como a paciência da gestação, o trabalho do cultivo e a utilidade da colheita. Por isto que a história mitológica do rapto de Perséfone é o mito que melhor ilustra tal arquétipo.
Perséfone era uma deusa virginal, sempre protegida pela mãe Ceres (Deméter), deusa da fertilidade e da agricultura. Ela ajudava sua mãe a semear, cultivar e colher o alimento para os filhos de Gaia, os seres humanos, até o dia em que o deus do submundo Plutão (Hades), em uma de suas invisíveis incursões à superfície, conheceu e apaixonou-se por Perséfone. Ele a raptou para fazê-la sua esposa e rainha do Hades. Desesperada, Ceres queria sua filha de volta e pediu a Júpiter (Zeus) que intercedesse junto ao deus dos infernos e do submundo para que devolvesse sua filha. Júpiter enviou seu mensageiro Mercúrio (Hermes), único deus do panteão olímpico que tinha livre acesso a todos os reinos desde o Olimpo até os domínios de Plutão. Com seu talento de negociante, Mercúrio conseguiu estabelecer um acordo entre Plutão e Ceres: Perséfone permaneceria 6 meses na superfície da Terra junto à mãe e, os outros 6 meses, reinando na terra dos mortos junto de seu marido, Plutão. Este acordo foi aceito de bom grado por todos, deuses e humanos, já que a consternação de Ceres não permitia qualquer crescimento do cultivo na Terra, tornando-a árida e deixando a vida perecer. Durante a permanência de Perséfone junto à mãe, a Natureza voltava a ser produtiva, verdejante e abundante; quando ela voltava ao reino do marido no Hades, Ceres voltava a se lamentar e a Natureza entrava em uma fase de recolhimento e improdutividade. É assim que observamos os ciclos perfeitamente compensadores das estações do ano: a primavera e o verão são os períodos em que Ceres e Perséfone encontram-se felizes no auge da produtividade refletindo um período de cultivo e crescimento e, por sua vez, o outono e o inverno quando Perséfone retorna aos domínios de seu consorte Plutão. Esta é a base do calendário biodinâmico da Terra.
A Natureza reflete de forma perfeita o sistema organizacional do signo de Virgem. Se a observamos com atenção, existe uma inteligência suprema nos ecossistemas que previne e corrige as eventuais perdas e a escassez das estações; produz e alimenta a todos os participantes e rejeita os seres danosos que trazem desequilíbrio à seu sistema perfeito, respondendo a este desequilíbrio com mudanças em seus ciclos e fundamentos. O caos não é permitido na Natureza, mas ela compensa sabiamente o desequilíbrio promovido por seus filhos.
Do elemento Terra e modalidade Mutável, Virgem adapta-se ao processo de Vida assim como Perséfone adaptou-se aos mundos consciente (Ceres) e inconsciente (Hades). Esta adaptação virginiana é racional, preventiva e exige trabalho e uma rotina estruturada para cada participante do do sistema. Em um ecossistema ou qualquer sistema organizado, o trabalho ou a prestação de serviços de todos os habitantes e participantes na forma de hierarquia entrelaçada é fundamental.
Virgem é o signo que rege o Caminho posterior ao Caminho Fortuna e já se adaptou aos ciclos onde a consciência cria e mantêm a dinâmica da Roda e “antecipa os solavancos inesperados” da intervenção caótica ou desorganizada.
Ao fundo do arcano do Eremita existe uma profusão de plantas de trigo representando a criatividade e o trabalho de produção no mundo prático. Existe também um espermatozoide provindo da base da carta indicando que a fertilidade da Natureza é mobilizada pela união entre as profundezas plutônicas (sexo, transformação) e a receptividade da Terra.
A figura central do arcano é um ancião: neste caminho, chega-se à maturidade e independência criativa já que somos observadores conscientes. Note que sua atenção se concentra no ovo órfico enrodilhado por uma serpente. A função analítica do observador colapsa a realidade no Eremita. Ele é maduro, experiente, íntegro e criativo, pronto para realizar sua Vontade. É um monge ou um mestre preparado para indicar o caminho, aconselhar ou orientar o discípulo por meio da prática adquirida em sua experiência. Carrega no candeeiro o seu Sol, sua Luz e pode iluminar o caminho de seus discípulos.
Vale a pena lembrar que Virgem é um signo analítico, racional e científico. A ciência quântica defende a interferência do observador como presença consciente do fenômeno, assim como o Eremita observa racional e conscientemente o fenômeno da criação do ovo órfico. Já não lhe interessam os fenômenos materiais e superficiais das estruturas mais densas, mas a origem que está inserida nos corpos mais sutis e nas possibilidades ainda não concretizadas de realização. Este ancião veste uma túnica vermelha, cor ariana da coragem e iniciativa. No alto de sua sabedoria e vivência, o Eremita é tão destemido que ignora a presença de Cérberus, o guardião do reino de Plutão, que é retratado como um pequeno e quase inofensivo cão de três cabeças. Duas de suas cabeças estão voltadas para frente e apenas uma está olhando para trás. Ele lembra os chacais do arcano do caminho da Lua, mas sua posição secundária e quase insignificante nos remete ao fato de que o Eremita, enquanto observador consciente, perdeu seus medos e inseguranças. No entanto, como uma das cabeças está voltada para trás, ele precisa ficar alerta às experiências, traumas e vivências do passado que têm sua utilidade para construir seu sistema lógico de como proceder. Ele transcende temores, ilusões e inseguranças, mas o seu espírito analítico volta-se introspectivamente para o mistério da criação e para sua essência original, aquilo que a lógica convencional não explica.
O Caminho do Eremita conecta as esferas do Self (Sol) e da Realização (Júpiter). É um caminho trilhado apenas por aqueles que chegaram ao estágio de observadores quânticos, ou seja, àqueles que atingiram a plena consciência sob a Luz do Self e de sua Vontade. Conhecer seu propósito essencial conduz o indivíduo à plena realização do mesmo, o que o dirige à evolução de sua essência rumo à comunhão com a Criação.

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