Mercúrio e Casa 3


Pico della Mirandola, pensador renascentista, defendia que ser humano transita da vegetalidade até a divindade, ou seja, seu comportamento, suas emoções, suas escolhas não são exclusivamente racionais ou inspiradas por alguma superioridade diante de outras espécies, mas ele é capaz de vegetar abdicando-se de sua autoria existencial, pensar, apaixonar-se e até de atingir as mais sublimes epifanias devocionais.

Nestes caminhos, o ser humano conquista o objeto de seus desejos ou não. A frustração do fracasso concentra-se majoritariamente em sua mente, o corpo de manifestação mais vulnerável e incontrolável que temos. Podemos controlar ou limitar nosso corpo físico, nossas emoções até certo ponto, mas a mente nos controla. Com a palavra, Rudolf Steiner:

Os pensadores que duvidam da realidade e força do próprio pensar estão enganados sobre a atitude fundamental de sua alma. Pois em muitos casos é a sua própria acuidade intelectual que lhes suscita as dúvidas e os enigmas como conseqüência de uma certa tensão excessiva. Se não confiassem no pensar, eles nem chegariam a atormentar-se com essas dúvidas e enigmas, meros resultados da atividade pensante.”

A atividade pensante é uma faca de dois gumes: nos traz conclusões e dúvidas. As dúvidas podem ser atormentadoras, que deflagram a ansiedade. O pensamento origina-se de nossos valores, vivências e da complexidade do nosso intelecto. A malha intelectiva está 24 horas em trabalho contínuo, inclusive alimentando e contextualizando sonhos, mesmo que seja de uma forma distorcida utilizando-se da simbologia da psique coletiva. Preocupações e decepções crônicas cristalizam-se em depressões.

O Hermetismo nos ensina que o Universo é mental, princípio básico e semente do mundo das Ideias de Platão. A mente universal é a causa e o começo de tudo. Portanto, nosso acesso individual ao mundo das ideias arquetípicas é diferenciado não só por nosso Mercúrio de nascimento, mas também pela casa 3.

Mercúrio representa o funcionamento do nosso raciocínio ou a qualidade de nossa inteligência. Ele rege os signos de Gêmeos e Virgem, os mais racionais do zodíaco. Mas, ele pode estar em qualquer um dos 12 signos no momento de seu nascimento, nunca se distanciando muito do Sol. Se você nasceu com o Sol em Libra, por exemplo, seu Mercúrio só pode estar no signo do Sol, Libra, ou nos signos mais próximos: Virgem ou Escorpião. Mercúrio pode fazer inúmeros aspectos com outros astros. Quando ele está conjunto a Júpiter no momento do seu nascimento, existem grandes chances de você ter facilidade de aprender línguas estrangeiras. Em trígono com Vênus, faz de você um bom ouvinte e um bom negociador.

A casa 3, por sua vez, contém todo o nosso aprendizado, interesses, métodos de processamento de conhecimentos adquiridos, além de alimentar a casa 9 com conclusões, verdades, ética, crenças e vários outros assuntos que compõem nossa visão de mundo e pré-juízos. Gostaria de destacar esta casa e a vida intelectual ao longo das últimas gerações. Minha geração, por exemplo, quando queria estudar e pesquisar por causa de um trabalho escolar ou por simples curiosidade, tinha que ir atrás de publicações e livros em uma biblioteca. Era um trabalho semi-braçal, arqueológico e detetivesco, pois nem sempre achávamos o que estávamos procurando em apenas um lugar. Mas, toda esta busca treinava uma das qualidades mais importantes da casa 3: a curiosidade. A curiosidade impregna a mente de versatilidade, não a deixa se deformar por causa de qualquer distorção ou limitação na visão de mundo. A curiosidade humana mobiliza a inteligência sem deixar a estagnação enraizar conceitos e significados obsoletos. Ela se destaca da observação mundana e viaja pelo abstrato dando ensejo à criatividade. Hoje, temos disponíveis de forma extremamente confortável ao alcance de alguns touch screen qualquer informação, conhecimento e até livros para download. Muitos de nós mantivemos a curiosidade de ir além da informação em estado de “pronta entrega”. Queremos nos aprofundar e pesquisar independentemente daquilo que a internet nos oferece prioritariamente. Em outras palavras, temos um 'tsunami' de informações nos invadindo todos os dias “entupindo” nossa casa 3 de muitas coisas que nem precisamos ou usamos. Muitas destas coisas buscam distorcer nossa percepção e escolhas individuais no campo do conhecimento. É como se estivéssemos no meio de uma Times Square sendo bombardeados pelas propagandas e notícias disponíveis intermitentemente nos telões sobre assuntos que nem são de nosso interesse. Quando estamos conscientes deste perigo hipnótico das redes sociais e seus influencers, conseguimos sair do transe e manter a lucidez de nosso raciocínio. Nem sempre isto é possível para todos, especialmente, àqueles das novas gerações que já nasceram com estas ferramentas disponíveis. Neste movimento, a casa 9 acaba se alimentando dos mesmos elementos distorcidos, hipnóticos e que satisfazem o objetivo daqueles que vendem a informação centralizada implantando ideias e opiniões que não são despertadas pela curiosidade e raciocínio individual, mas atende interesses exclusivos de um nicho corporativo ou governamental.

Quando esta manipulação mental tem sucesso perante a grande maioria, aquele que por mera curiosidade questiona aquilo que é imposto pelo mainstream, que forçosamente tornou-se o tal do 'senso comum', costuma ser reprimido como se optar por entender a amplitude daquela miríade de informações sobre determinado assunto fosse uma espécie de pecado. As próprias ferramentas tecnologicamente confortáveis não estimulam a prospecção ou a investigação. Está tudo pronto para ser consumido no grande fast-food da informação.

Mas a busca pelo essencial e pela fonte sempre foi a motivação dos primeiros filósofos. A dialética de Sócrates foi substituída pela escolástica que, por sua vez, cedeu lugar para o racionalismo, que fez com que o homem se colocasse no lugar de Deus. Do iluminismo para cá, jogou-se a última pá de cal na metafísica e perdemos nossa criatividade, curiosidade e intuição em algum lugar neste caminho.

Sendo a origem de tudo, a mente provoca o mal estar e as doenças advindas. Uma mente que não conhece seu potencial e se embota perante a facilidade de aceitar os ditames da sociedade adoece. O aumento dos índices de doenças mentais, dentre elas a depressão, é sinal evidente de que houve uma desconexão com o Todo.

Conhecer seu Mercúrio natal e a casa 3 é a forma mais eficaz de reconectar-se à Mente Divina e se destacar da manipulação doentia dos dias de hoje. O conflito provocado pela polarização programada de opiniões e incutida nas mentes desconectadas é a maior fonte de infelicidade e insatisfação. O autoconhecimento nunca é completo sem o entendimento da singularidade do funcionamento da mente, da qualidade de inteligência, ou seja, da investigação de Mercúrio, da casa 3 e dos ciclos planetários sobre eles ao longo da historicidade de cada um.


 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Plutão em Aquário III – Quadratura com Marte

Orientações para o período

Orientações para o período