Sísifo e as Armadilhas Existenciais durante Trânsitos Planetários

 

Sísifo é um personagem mitológico conhecido por empurrar com dificuldade uma enorme pedra montanha acima, que acaba rolando de volta até seu local de origem fazendo com que ele repita o processo, perpetuando o castigo eterno imposto pelos deuses. Ele costuma representar os sistemas de trabalho em sua rotina monótona e sem significado. Entretanto, o que Sísifo fez para merecer tal sina?

Sísifo era descendente de Prometeu, aquele que roubou o fogo dos deuses para proveito da Humanidade, então é fácil perceber que a rebeldia fazia parte de sua hereditariedade. Também era tido como o mais esperto dos mortais. Fundador e rei de Corinto, lamentava que seu reino era pobre em água doce, o que causava naturalmente grandes problemas de sobrevivência da população. Um dia testemunhou um dos famosos raptos de Zeus que, na forma de uma águia, levou Égina, filha de Asopo, que entristeceu-se com a ausência da filha. Ardiloso, Sísifo relatou a Asopo que sabia do paradeiro de Égina, mas iria contar por um preço: como Asopo era o deus dos rios, ele teria a informação que precisava caso beneficiasse Corinto com uma nascente. Feito o trato, claro que Zeus descobriu a delação e mandou Tanatos, deus da Morte, matar Sísifo e deixá-lo no Tártaro.

Sísifo conseguiu ludibriar Tanatos, prendendo-o no Tártaro. Ao saber disto e, como o deus da Morte não cumpria seu papel nos campos de guerras, Ares o soltou e assumiu a responsabilidade de matar Sísifo, de novo. Em conluio com a esposa, Sísifo chega ao reino de Hades pedindo para voltar ao mundo dos vivos, pois a esposa não cumpriu os ritos fúnebres. Perséfone acreditou na promessa do grego mais esperto e malandro das lendas de que, assim que ele se vingasse da esposa e cumprisse com os ritos funerários, voltaria ao Hades. Sísifo fugiu com a esposa e viveu até a velhice. Depois de sua morte, todos os deuses que foram enganados por ele decidiram pelo famoso castigo eterno.

Qual é a moral da história? O que isto tem a ver com a Astrologia?

Quantas vezes fugimos das nossas tarefas cármicas e dos respectivos saltos quânticos evolutivos? Os deuses representados pelos planetas que transitam e aspectam nosso mapa de nascimento nos desafiam a cumprir tarefas, transmutar situações e bloqueios, enfrentar medos e angústias, em suma, a morrer e renascer de tempos em tempos. A grande maioria, até mesmo sem perceber, se apega a situações, valores, posições sociais, relacionamentos, filosofias e certezas como se fossem espertas ou ardilosas tal qual Sísifo, a ponto de fugir dos deuses ou dos ciclos planetários.

Esta fuga funciona até certo ponto. Os ciclos dos planetas transaturninos (Urano, Netuno e Plutão) duram anos e nos oferecem as oportunidades para transcender, mudar, renascer e evoluir das mais diversas formas. Estou partindo do princípio de que todos os que estão lendo este artigo entendam que não existe continuidade e permanência de nada no universo. E, assim é com tudo em nossa vida.

Quando tentamos fugir como Sísifo, ou seja, “driblar” o chamado e as influências planetárias, acreditamos que estamos no controle de tudo, que somos poderosos e inteligentes o suficiente para prevenir qualquer não conformidade que possa vir a ocorrer. Mas, não contamos com um titã responsável pela “cobrança” e cumprimento da sentença prevista pelos aspectos dos transaturninos. Este titã é Cronos ou Saturno, o senhor do Tempo, que faz com que nos sintamos encurralados em uma armadilha.

Quando percebemos que estamos nesta armadilha? Quando temos a mesma sensação de Sísifo a empurrar com esforço a pedra até o alto da montanha para vê-la rolar até embaixo e repetir, repetir e repetir o trabalho, com a sensação invariável de tempo perdido, insatisfação, angústia, depressão e vazio existencial. Esta armadilha está no relacionamento que não se desenvolve, no emprego sem significado, no sonho não realizado, nos bloqueios, nos limites dos mais críticos até os mais insignificantes, mas que acumulam o sentimento de frustração até chegar ao ponto da falta de vontade de viver. Este é o olhar tenebroso diante de um futuro sem realizações, pois do topo da montanha, a pedra não só não passa, como volta. Ao contrário de Sísifo, podemos despertar e sair desta armadilha ao nos tornarmos conscientes fazendo o caminho contrário, observar onde tudo começou, onde houve resistência e negação frente ao novo e diferente. O castigo auto-infligido inconscientemente deve ser revertido no despertar consciente e, principalmente, no entendimento dos ciclos dos transaturninos que começaram este processo. Conhecer a historicidade, ou seja, o momento em que um determinado planeta transaturnino começou seu ciclo transformador comparado à percepção do indivíduo daquele momento é a melhor forma de reconhecer a armadilha e estruturar as devidas estratégias para a evolução pessoal e a ruptura com o padrão repetitivo. O objetivo alcançado é uma existência mais autoconsciente e consciente de seu potencial evolutivo, além do conhecimento dos arquétipos envolvidos ao longo dos ciclos que foram resgatados.

Vamos a um exemplo prático?

Netuno, um astro transaturnino, transita por Peixes desde 2012. Por ser um dos regentes de Peixes, encontra-se energeticamente favorecido pela similaridade arquetípica: espiritualidade, psique coletiva, monismo, transcendentalidade, mundo invisível e sutil, sincronicidades, simbolismo, romantismo, artes etc. O ciclo de um transaturnino provoca a Humanidade como um todo a evoluir mediante seu arquétipo. Portanto, todos nós tivemos a oportunidade de priorizar a visão espiritual e holística netuniana em algum momento nestes 14 anos, pois Netuno irá para Áries em 2026, fechando este capítulo evolutivo.

É interessante observar que, o trânsito de Netuno por Peixes é mais notável nos signos de Gêmeos, Virgem, Sagitário e, obviamente, Peixes. Por 'mais notável' quero dizer que os astros pessoais (Lua, Sol, Mercúrio, Vênus, Marte) e Ascendente neste signos são mais vulneráveis aos aspectos netunianos, ou seja, sua interferência pode ser objeto da nossa “síndrome de Sísifo” - a fuga.

Claro que, tanto a teoria quântica quanto a Astrologia afirmam que a escolha do observador é que vai determinar a manifestação da onda de possibilidades. Mas, aqueles que optaram consciente ou inconscientemente pela armadilha existencial, terão que lidar com a cobrança saturnina a partir do começo de 2023. Em outras palavras, Saturno começará seu ciclo em Peixes em março de 2023 realizando os mesmos aspectos notáveis que Netuno realiza desde 2012!

Vale a pena lembrar que Gêmeos e Virgem são os signos mais racionais do zodíaco, ambos são regidos por Mercúrio, e os astros nestes signos puderam perceber os 'sinais' vindos das ondas netunianas sem a devida lógica ou estruturação racional. Virgem, em especial, não teve a mesma capacidade de prever a desorganização ou a confusão que Netuno provoca. Sagitário teve que entender novas filosofias e crenças, flexibilizando sua busca pela verdade e evitando a tendência ao radicalismo e ao fanatismo. A partir do próximo ano, astros pessoais nestes signos serão chamados para a reta final do salto quântico com o tempo contado. A fuga em direção à manutenção de suas verdades absolutas e racionais irá projetar a armadilha pisciana do medo, da fuga da realidade, da sensação de vazio e solidão.

Como indivíduos ou no âmbito coletivo estamos sempre sujeitos a ciclos como o exemplo acima. Não é difícil sair da armadilha e evitar a síndrome de Sísifo, basta ser autoconsciente conforme orientam as filosofias orientais, o hermetismo e a teoria quântica. Como o próprio nome diz, o 'mapa' astrológico nos localiza no 'aqui e agora' comprovando nossa historicidade e iluminando o porvir.


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