Isobel Gowdie, a Bruxa
O festival de Samhain, popularmente conhecido como Halloween, é a comemoração do ano novo celta e tem a duração de três dias. Durante as noites destes dias, o véu que separa o mundo manifesto dos vivos do mundo dos mortos – oculto, espiritual, transcendental – torna-se tênue o suficiente para permitir o intercâmbio entre os dois.
O dia 31 de outubro também é conhecido como o “dia das bruxas”. Nada mais apropriado, uma vez que bruxas e magos são buscadores da conexão com o mundo oculto por meio de rituais específicos com o uso de talismãs, ervas, cristais e outros instrumentos de poder.
Entre a Idade Média e o final da Renascença, a Santa Inquisição caçou, torturou e aniquilou milhares de bruxas e bruxos, principalmente, mulheres, sob acusações ligadas à prática do paganismo. Bastava uma mulher, que optou por viver só na natureza, distanciando-se dos demais, que nutria simpatia por gatos e pelo estudo prático da herbologia para atrair a desconfiança da malta ignorante que servia de canal aos sacerdotes ávidos de violência para utilizarem seus plenos poderes inquisitórios. Pouco se sabe sobre estas milhares de almas que pereceram por “bruxaria”, mas um registro muito bem conservado foi resgatado de uma escocesa chamada Isobel Gowdie, que foi presa em 1662. Suas confissões estão entre as mais extraordinárias e bizarras já registradas. Obviamente, estas confissões foram frutos de dias de isolamento e tortura. Mesmo assim, ela deu detalhes de rituais e feitiços usando imagens de seus inimigos feitas com argila e centeio para provocar infortúnios como a ruína de suas plantações, por exemplo. Relatou seu suposto encontro com o Diabo na igreja de Auldearn, a cidade em que estava sendo julgada, quando foi rebatizada por ele e teve relações com o mesmo. Também descreveu sua participação em festividades promovidas pelas fadas e expressou seu medo por “touros aquáticos”. Transformava-se em corvo e se esgueirava pelas cozinhas e adegas de castelos locais. Viajava com os elfos e atirava flechas com eles nos transeuntes. Além disto, relatou 27 encantamentos, dentre os quais, a transferência etérea de enfermidades e toxinas de um ser vivo para o outro; a prática de feitiços para a cura de febres e ossos quebrados para atender aos pobres que não podiam arcar com um médico.
Alguns estudiosos de suas confissões comparam sua habilidade de alçar voo usando um talo de milho com registros semelhantes por praticantes xamânicos da Sibéria e da Escandinávia. Não há relatos sobre a execução de Isobel, mas o forte misticismo celta herdado em sua quase pureza pelo povo escocês, criou a lenda da Dama Verde, ou seja, uma bruxa que assombra a área em torno de Auldearn.

 
 
 
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