
As Casas 6 e 12
Nos cursos de Ativismo Quântico do físico indiano Amit Goswami, a premissa básica é o cultivo do intelecto supramental no desenvolvimento da consciência ou auto-consciência. O intelecto supramental nada mais é do que o acesso ao mundo invisível onde conseguimos compreender que nossa intuição, quando se entrelaça com o inconsciente coletivo, consegue resgatar a criatividade para o contexto do dia a dia na nossa vida material. Para exemplificar com simplicidade este acesso ao mundo supramental, o professor dotado sempre de bom humor, gosta de cantarolar uma base jazzística “do-be-do-be-do-be” (do = fazer em inglês, be = ser). Intercalar o “fazer” com o “ser” de forma equilibrada é o singelo segredo para o acesso ao intelecto supramental ou intuição. Desde o Iluminismo e sua filosofia cartesiana, o ser humano vem se tornando cada vez mais cético acumulando aproximadamente 400 anos de intensa atividade com vistas a sucesso econômico, descobertas científicas, progresso e outras conquistas. Portanto, o “fazer” se tornou prioritário e quase absoluto, em detrimento da simples contemplação do “ser”. Quando se coloca o “ser” e o “fazer” em pé de igualdade, significa obviamente abrir oportunidades no nosso tempo para a contemplação e a ociosidade criativa. Não, não se trata de meditação ou yoga. Tanto a meditação e a yoga possuem procedimentos, que as colocam no âmbito do “fazer”. No entanto, pode-se dizer que são técnicas que nos ajudam a acessar o “ser” ou o caminho para o intelecto supramental. No começo, a busca deste equilíbrio causa ansiedade. O sentimento de perda de tempo enquanto os afazeres se acumulam, além do incômodo que causa o silêncio e o vazio, criam armadilhas para desistência ou procrastinação. Mas insistir em romper com medos e outros bloqueios pode revelar um mundo intenso, muito mais vasto e complexo que o manifesto, chegando até ao poderoso insight da reconexão com o divino e o reconhecimento da Grande Obra.
É claro que, o “fazer” e o “ser” estão contidos no sistema astrológico e correspondem a duas casas complementares: a 6ª (fazer) e a 12ª (ser). A 6ª casa ou casa 6 costuma ser considerada a casa do trabalho ou do ambiente de trabalho. Na verdade, ela representa nossa rotina e, o trabalho é um dos itens que a compõem. Claro que a grande maioria de nós, pobres mortais, trabalha pela necessidade de remuneração em um mundo que exige o pagamento de aluguel, contas, alimentos, saúde etc. E o trabalho ocupa uma grande parte do tempo da maioria das pessoas desde a Revolução Industrial. Eis um dos maiores motivos da dedicação quase exclusiva ao “fazer” em nossa vida. Na casa 6, estão nossos hábitos que também compõem a rotina diária. Dependendo destes hábitos, mantemos uma boa saúde ou não. Por isto que o signo, os astros presente ou regentes desta casa revelam quais precauções devemos tomar e quais hábitos devemos ter para evitar doenças. Portanto, a 6ª casa também é a casa da saúde preventiva.
Em contrapartida, a 12ª casa, a casa do “ser”, ou da contemplação, do isolamento, da transcendência e da espiritualidade, nos oferece uma vivência silenciosa, simbólica e solitária. Imagine uma ponte entre a casa 6 e a 12 pois, para você atravessar e ir até uma, você terá que abandonar a outra. Este é o fundamento do “do-be-do-be-do” do Ativismo Quântico: conhecer e compreender ambas as casas em nosso mapa astrológico a fim de traçar as melhores estratégias para percorrer a ponte ou o caminho entre elas equilibradamente, sem nos determos mais do que necessário em uma ou em outra.
A casa 12 sempre foi vista com um certo preconceito pela Astrologia tradicional ou racional. Ela é associada ao sofrimento, à solidão e às internações ou prisões. Claro que a Astrologia adaptou-se ao cartesianismo e ao mundo dinâmico das conquistas, do trabalho incansável, do sucesso e abdicou da espiritualidade, paradoxalmente, pois a Astrologia tem suas origens no Hermetismo esotérico. No entanto, podemos extrair algum sentido disto quando pensamos em saúde. A homeostase depende do equilíbrio entre o “ser” e o “fazer” em termos de medicina holística. Se nos desgastamos em uma rotina infeliz, um trabalho sem realização e hábitos auto-destrutivos, rompemos com a homeostase e o caos se transfere para a 12ª casa, ou seja, a solidão e o isolamento, neste caso, transformam-se em penalidades involuntárias como internações hospitalares ou sanatórios, por exemplo. Em outras palavras, se não acessamos nossa casa 12 por bem, acessaremos por mal. Além de ser associada ao sofrimento, o tabu da solidão também esteve presente na Astrologia determinista. Aliás, a solidão e o isolamento até bem pouco tempo eram vistos como hábitos estranhos, anti-sociais e anti-naturais. Até o momento em que uma pandemia direciona involuntariamente a humanidade como um todo para suas respectivas casas 12.
É neste ponto que gostaria de chegar. Independentemente das origens do COVID 19 e das razões do lock down, a maioria dos cidadãos teve que enfrentar sua casa 12, sua voz interior ou seus ‘demônios contidos e ignorados’. Com as rotinas, trabalhos e hábitos limitados, as pessoas estão tendo as mais diferentes e inusitadas reações ao confrontarem a transcendência e tudo aquilo gritado pelo silêncio. Claro que o esperado é o processo criativo para o grande salto quântico coletivo. Será que vamos conseguir? Lembro do professor Amit Goswami afirmando que todos nós podemos colapsar novas realidades dando saltos quânticos enquanto observadores conscientes. Mas, como humanidade, também devemos evoluir coletivamente. Percebo que, na prática, muitos de nós estamos utilizando o potencial criativo para priorizar aquilo que realmente tem significado em nossas vidas. Claro que, como qualquer internação ou hospitalização que nos leva involuntariamente para a casa 12, este processo de mudança está sendo doloroso e repleto de medo do futuro. Mas, um dos recursos mais sublimes da casa 12 e sua transcendência é a aproximação com a divindade e a percepção de que todos somos parte da mesma substância primordial ou Deus.
O pânico é uma das reações quando o bloqueio entre as casas 6 e 12 é rompido de maneira involuntária e inesperada. Enquanto acreditamos que temos nossas rotinas organizadas sob controle na casa 6 e ignoramos o universo arquetípico da 12, nos iludimos com a soberania do nosso microcosmo destacado do macrocosmo. Quando este controle é rompido e somos jogados no oceano do caos, tentamos reagir e a situação piora. A melhor lição é extraída da analogia que C.G.Jung fez entre o inconsciente coletivo e o oceano : se estamos nos afogando não devemos nos debater ou reagir, mas deixar que as ondas nos levem para a costa. A entrega do nosso “eu” à vastidão do mundo transcendental também deveria ser assim, pois sentimos a reconexão com o mundo arquetípico e a dissolução do ego. Vocês podem chamar isto de batismo ou de renascimento, conforme a fé de vocês. Esta entrega, no entanto, é carregada de cura quântica e, a ansiedade, o pânico, os medos e a depressão nada mais são do que sintomas de resistência a esta cura.